Em síntese: Lourdes é o santuário mariano mais frequentado. A igreja tem aí favorecido a devoção à Virgem SS.; anualmente cerca de três milhões de peregrinos vão a Lourdes. Desde 1858 até nossos dias, dois milhões de enfermos tem ido rezar em Lourdes. Todavia a Igreja é cautelosa diante da proclamação de milagres; até hoje somente 65 curas inexplicáveis e milagrosas foram reconhecidas pelas autoridades eclesiásticas. – Duas comissões de médicos, de diversas nacionalidades e diferentes Credos ou sistemas filosóficos, estão a serviço da verificação de moléstias e curas relacionadas com Lourdes. Muito importantes são os benefícios espirituais que, em alta escala, são obtidos naquele santuário; numerosas pessoas mudam de vida após Ter rezado e recebido os sacramentos em Lourdes. Desta maneira Lourdes continua sendo um sinal vivo da Providência Divina, que não abandona a humanidade sofredora, especialmente recomendada pela intercessão de Maria SS., Mãe de todos os homens.
O santuário de Lourdes é o mais famoso de todos os santuários marianos. A Igreja não afirma que a Virgem Ssma. Lá apareceu (mas também não o nega). Segundo sua praxe de sobriedade, a Igreja reconhece o pleno valor do culto prestado à Virgem Ssma. Sob o título de Nossa Senhora de Lourdes e examina os fenômenos de cura lá ocorrentes para averiguar os eventuais autênticos milagres.
Seguem-se alguns dados mais precisos sobre os milagres atribuídos a Nossa Senhora de Lourdes. – Este artigo tenciona assim prosseguir as reflexões sobre aparições marianas publicadas em PR de novembro 1994, pp. 505-515.
1. Datas e Estatísticas
De 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858, uma jovem de quatorze anos chamada Bernadette Soubirous foi agraciada com dezoito aparições da Virgem Ssma.; esta lhe disse em 25 de março: “Eu sou a Imaculada Conceição”, fazendo eco, aliás, à definição do dogma da Imaculada Conceição ocorrida em 8 de dezembro de 1854. Em 1862 o inquérito da Igreja terminou sem encontrar algo que desabonasse os fatos; construíram-se então duas basílicas no lugar, a primeira em 1876 e a Segunda em 1958.
Calcula-se que anualmente vão a Lourdes três milhões de peregrinos em média. Chegam lá 720 trens e dois mil aviões por ano. Desde o início das aparições em 1858 foram a Lourdes dois milhões de enfermos; estes atualmente são acolhidos em nove hospitais especializados, em que trabalham cem mil voluntário(a)s e dois mil médicos. Todavia de 1858 aos nossos dias apenas 65 curas foram reconhecidas pela Igreja como milagrosas embora duas mil curas tenham sido reconhecidas pelos médicos. Isto eqüivale a dizer que de dois em dois anos aproximadamente há um milagre em Lourdes; dentre trinta curas, uma é considerada inexplicável pela ciência e milagrosa aos olhos da fé.
Das pessoas curadas, contam-se 56 franceses, 5 italianos, 3 belgas e um austríaco. As mulheres são a maioria: 52, das quais 8 são Religiosas (freiras); entre os homens, há três sacerdotes. Os sete primeiros milagres foram reconhecidos oficialmente pela Igreja em 1862, quatro anos após as aparições; foram averiguados pelo médico Dr. Dozous, que não era católico, mas se converteu posteriormente.
A primeira cura cuja data é certa, é a da Sra. Catherine Latapie. Era inválida por paralisia da mão direita. Na noite de 28 de fevereiro para 1.º de março de 1858 (ainda durante as aparições), ela despertou os seus filhinhos e, com eles, pôs-se a caminho da gruta das aparições, onde chegou ao raiar do dia. Encontrou-se com Bernadette e mergulhou a mão na água que jorrava da fonte rochosa. Imediatamente a mão recuperou os movimentos normais. Voltou logo para casa e, pouco tempo depois, deu à luz o seu terceiro filho, que em 1882 se tornou sacerdote. Essa cura subitânea e inexplicável foi examinada e comprovada pelo professor Vergez; o Bispo da diocese (Tarbes), Mons. Laurence, reconheceu o milagre, ou seja, a intervenção de Deus.
Entre os milagres registrados oficialmente, conta-se um que se deu na Bélgica, numa capela dedicada à Imaculada Conceição de Lourdes. Cita-se também o caso de um Bispo russo, Mons. Anthedon, que escreveu à autoridade diocesana e aos médicos de Lourdes afirmando Ter sido curado pela intercessão da Virgem de Lourdes. O metropolita (Superior hierárquico) o testemunhou em 1874, proclamado o evento milagroso. Todavia essa cura nunca foi incluída no rol dos milagres de Lourdes, provavelmente porque faltou a documentação precisa e rigorosa atinente ao fato.
Atualmente a Comissão de Médicos estabelecidas em Lourdes tem, para seu exame, cinco casos de curas tidas como inexplicáveis, entre as quais se acha a de um peregrino proveniente da Europa Oriental. O episódio mais recente que está entregue ao estudo dos médicos, é o de um operário francês de 58 anos de idade, Jean Salauen, nativo de La Luope na diocese de Chartres; a 1.º de setembro de 1993, foi subitamente curado, tendo voltado de Lourdes na véspera; sofria de terrível modalidade de esclerose com plaquetas, que o obrigava a ficar imóvel na cama desde 1979.
2. A Prudência da Igreja
Aos 18/1/1862 o Bispo de Tarbes (diocese da qual faz parte a cidade de Lourdes) escreveu uma Carta Pastoral, em que reconhecia nada haver de reprovável na seqüência dos acontecimentos recentes de Lourdes e autorizava o culto da Virgem Ssma. Como “Nossa Senhora de Lourdes”. Dos 69 Bispos franceses da época vinte responderam muito positivamente a essa carta; os demais mostraram surpresa e reserva. A Carta foi enviada também ao Ministro do Culto e à Imperatriz Eugênia, esposa de Napoleão III (que simpatizava abertamente com os acontecimentos de Massabielle). Os jornais favoráveis ao Governo mostraram-se pouco propícios à notícia do Sr. Bispo de Tarbes; outros a publicaram sem comentários. O clima da França em meados do século XIX era marcado pelo positivismo de Augusto Comte e por correntes filosóficas arreligiosas.
No fim do século passado, visto que as peregrinações continuavam a afluir a Lourdes e se proclamavam sempre grandes graças recebidas pelos fiéis, os médicos começaram a dar atenção mais sistemática aos fatos. Foi fundado em 1881 o Bureau des Constatations Médicales (Comissão de Averiguação Médica) pelo Dr. Dunot de Saint-Maclou, professor na Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Este cientista estabeleceu critérios rigorosos e precisos para examinar as ocorrências e chamou, para colaborar, muitos médicos não católicos; em 1891 o Bureau contava 360 médicos a serviço. O ano de 1908, cinqüentenário das aparições, foi de grande movimento e numerosas peregrinações em Lourdes. Entre 1862 e o início da primeira guerra mundial (1914-18) foram reconhecidas 33 dentre milhares de curas maravilhosas. Aos médicos não compete falar de milagre; apenas analisam os fatos e, eventualmente, concluem que tal ou tal caso não admite explicação científica. Diz o Professor Trifaud, um dos maiores especialistas dos ossos e membro da Comissão Médica de Lourdes: “O médico jamais deve falar de milagre; deve, antes, limitar-se a reconhecer fatos contrários às leis da ciência médica”.
A perícia médica compreende ainda a Associação Médica Internacional de Lourdes, uma espécie de tribunal de apelação, constituída por vinte dos maiores especialistas europeus, que se reúne em Paris e pode recorrer a qualquer médico perito em determinada patologia.
Caso os médicos, após os seus minuciosos exames, verifiquem tratar-se de algum caso inexplicável, os teólogos estudam os aspectos religiosos das curas para averiguar se foram obtidas num contexto digno de Deus ou como sinais da Providência Divina (pois todo milagre, na Teologia Católica, é sempre um sinal). O contexto digno de Deus implica ausência de interesses lucrativos, ausência de frivolidade, mentira, orgulho e, positivamente, inclui oração humilde e piedosa da parte das pessoas envolvidas. O próprio Cardeal Lambertini (Papa Bento XIV, entre 1740 e 1758) estipulou em 1734 os critérios que devem caracterizar uma cura milagrosa (critérios válidos até hoje): seja repentina, instantânea, plena ou radical, definitiva e inexplicável aos olhos da ciência da época respectiva; seja cura de doença orgânica (devida a uma lesão, por exemplo) e não de doença funcional (doença nervosa, que não tenha provas histopatológicas).
É de notar que muito numerosos e não elencados em estatísticas são os casos de transformação interior das pessoas que vão a Lourdes: muitos doentes que não recuperam a saúde, voltam tranqüilos e reconciliados com a vida; pecadores inveterados se convertem a uma conduta cristã autêntica, regenerando-se radicalmente. Muitos e muitos fiéis se afervoram, recebem os sacramentos, participam da Liturgia e entregam-se à oração…
3. A água das piscinas de Lourdes
Dos 65 casos de milagre reconhecidos pela Igreja, 48 ocorreram em relação com a água das piscinas de Lourdes. Outras curas se têm dado por ocasião da Comunhão Eucarística, da União dos Enfermos e da oração pessoal.
Em torno dessa água se narram coisas maravilhosas. Dizem, por exemplo, que ela não molha; muitos fiéis saem da piscina enxutos. O Dr. Alexandre de Franciscis explica o fato do seguinte modo: “É certo que muitos saem enxutos após mergulhar na piscina. Mas não se trata de milagre. A explicação se deduz da grande diferença de temperatura existente entre a água e o ar da atmosfera; quando alguém repentinamente passa dos 8 ou 9 graus da água aos 25 ou 30 graus do ambiente, os poros da pele se abrem e a água remanescente se evapora instantaneamente”.
Outros dizem que a água está sempre pura, mesmo depois que nela se levam fiéis com feridas abertas. É certo que a água de Lourdes nunca provocou doenças em corpos sadios. O Dr. De Franciscis explica: “A água em baixa temperatura é sempre bacteriostática ou evita a multiplicação de bactérias”.
Todavia nos últimos dois anos a água das piscinas de Lourdes está sendo filtrada continuamente e purificada mediante raios ultra-violetas do tipo dos que são usados nas salas de cirurgia. Mais: depois que nela mergulha uma pessoa portadora de feridas abertas, a piscina é fechada, a água é retirada e o recinto é lavado.
Importa realçar que Lourdes é, sem dúvida, em nossos dias um sinal eloquente da irrupção dos valores transcendentais ou da Providência Divina em favor da humanidade sofredora, recomendada ao Senhor Deus pela intercessão de Maria Santíssima, Mãe de todos os homens.