Bratislava, 14 set. 21 / 04:00 pm (ACI).- O papa Francisco disse a cerca de 25 mil jovens que busquem a confissão, o “sacramento da alegria”, e recordem o perdão que receberam de Deus para entesourar a paz e a liberdade no coração, numa reunião no estádio “Lokomotiva” de Košice, na Eslováquia em 14 de setembro.

No papamóvel, Francisco percorreu o estádio para saudar e abençoar os jovens provenientes da Eslováquia e de países vizinhos, como Polônia e Hungria.

No encontro, o papa recordou a beata Anna Kolesárová, jovem eslovaca que defendeu sua castidade e foi morta por um soldado soviético durante a Segunda Guerra Mundial.

Depois da saudação do arcebispo de Košice ao papa e de três testemunhos diferentes, dois jovens e uma família jovem, Francisco pronunciou seu discurso no qual improvisou em várias ocasiões. Enquanto falava, o papa foi interrompido várias vezes por aplausos.

Em seu discurso, o papa disse que, quando alguém está caído “há um remédio infalível para erguer-se”, que é o sacramento da Confissão. Francisco perguntou: “são verdadeiramente os pecados o centro da Confissão? Deus quer que te aproximes d’Ele pensando em ti, nos teus pecados, ou n’Ele? O que Deus quer: N’Ele! Qual é o centro: os pecados ou o Pai que perdoa todos os pecados?”.

A resposta do papa foi que “não vamos confessar-nos como pessoas castigadas que se devem humilhar, mas como filhos que correm para receber o abraço do Pai. E o Pai levanta-nos em qualquer situação, perdoa-nos todos os pecados. Escutem bem isso: Deus perdoa sempre! Compreenderam? Deus perdoa sempre!”.

Depois, o Francisco aconselhou que “depois de cada Confissão, permanecei alguns momentos a recordar o perdão que recebestes. Guardai aquela paz no coração, aquela liberdade que sentis dentro de vós: não os pecados, que já não existem, mas o perdão que Deus vos deu. Este, guardai-o; não deixeis que vo-lo roubem”.

“E na próxima vez que vos fordes confessar, lembrai-vos disto: vou receber de novo aquele abraço que me fez muito bem. Não vou a um juiz para regularizar as contas; vou a Jesus que me ama e cura”, acrescentou.

O papa sugeriu também aos sacerdotes “que se sentem no lugar de Deus Pai, que sempre perdoa, abraça e recebe. Demos a Deus o primeiro lugar na Confissão. Se o protagonista for Ele, tudo se torna belo e confessar-se torna-se o sacramento da alegria”.

“Sim, da alegria: não do medo e do julgamento, mas da alegria. E é importante que os padres sejam misericordiosos. Nunca curiosos, nunca inquisidores, por favor, mas irmãos que dão o perdão do Pai, que sejam irmãos que acompanham neste abraço do Pai”, afirmou o papa.

Francisco disse que, se alguém sente vergonha ao ir se confessar, “Não é um problema; trata-se de uma coisa boa. Se te envergonhas, quer dizer que não aceitas aquilo que fizeste. A vergonha é um bom sinal, mas, como qualquer sinal, convida a ir mais longe. Não fiques prisioneiro da vergonha, porque Deus nunca Se envergonha de ti. Ama-te mesmo no ponto em que te envergonhas de ti mesmo. E ama-te sempre”.

Amor de telenovela

O papa Francisco abordou o tema do amor no casal afirmando que “o amor é o maior sonho da vida, mas custa. É lindo, mas não é fácil, como aliás todas as coisas grandes da vida. É o sonho por excelência, mas não é um sonho fácil de interpretar”.

“Amigos, não banalizemos o amor, porque o amor não é só emoção e sentimento; isto, quando muito, será o início. O amor não é ter tudo e instantaneamente, não obedece à lógica do usa e lança fora. O amor é fidelidade, dom, responsabilidade”, disse o papa. “Hoje a verdadeira originalidade, a verdadeira revolução é rebelar-se contra a cultura do provisório, é ir além do instinto e do instante, é amar por toda a vida e com todo o próprio ser”.

“Não estamos cá para ir vivendo, mas para fazer da vida um empreendimento grandioso. Todos vós tereis em mente grandes histórias que lestes nos romances, vistes em algum filme inesquecível, ouvistes em algum conto comovente”, disse o papa.

Francisco recordou o exemplo da beata Ana, a quem chamou de “heroína do amor” e que “diz-nos para apostarmos em metas altas. Por favor, não deixemos transcorrer os dias da vida como episódios de uma telenovela”.

O pontífice exortou os jovens a que, “quando sonhardes o amor, não acrediteis nos efeitos especiais, mas que cada um de vós é especial. Cada qual é um dom, e pode fazer da vida um dom. Esperam-vos os outros, a sociedade, os pobres”.

“Sonhai uma beleza que vá para além da aparência, para além das tendências da moda. Sem medo, sonhai formar uma família, gerar e educar filhos, passar uma vida inteira partilhando tudo com outra pessoa, sem vos envergonhardes das próprias fragilidades, porque existe ele, ou ela, que as acolhe e ama, que te ama tal como és”, acrescentou.

Neste sentido, Francisco explicou que “os sonhos que temos, dizem-nos a vida que desejamos. Os grandes sonhos não são o carro potente, o vestido da moda ou as férias extravagantes. Não deis ouvidos a quem vos fala de sonhos e, em vez disso, vende-vos ilusões: são manipuladores de felicidade”.

“Fomos criados para uma alegria maior: cada um de nós é único e está no mundo para se sentir amado na sua singularidade e amar os outros como ninguém o pode fazer no seu lugar”, disse o papa.

“Não se vive sentado no banco de reservas, à espera de substituir qualquer outro. Não! Cada um é único aos olhos de Deus”, acrescentou.

Francisco sugeriu aos jovens que “não vos deixeis «homogeneizar»: não somos feitos em série, somos únicos e livres, e estamos no mundo para viver uma história de amor com Deus, para ter a ousadia de decisões grandes, para nos aventurarmos no risco maravilhoso de amar”.

Finalmente, ele encorajou os jovens a não se deixarem vencer pelo pessimismo e pediu-lhes para não se deixarem condicionar “pelo que está errado, pelo mal que alastra. Não vos deixeis prender pela tristeza ou pelo desânimo resignado de quem diz que nada mudará jamais. Se dermos crédito a isto, adoecemos de pessimismo. Envelhece-se por dentro. Envelhece-se jovem”.

“Hoje há tantas forças desagregadoras, tantos que culpam tudo e todos, amplificadores de negatividade, profissionais de lamentações. Não lhes deis ouvidos, porque a lamentação e o pessimismo não são cristãos; o Senhor detesta a tristeza e o fazer-se de vítima. Não estamos feitos para fixar a face na terra, mas para levantar o olhar ao céu, aos outros, à sociedade”, afirmou o papa.

Por isso, Francisco convidou a se deixar “abraçar por Jesus, pois, quando abraçamos Jesus, reabraçamos a esperança. A cruz, não se pode abraçar por si só; o sofrimento não salva ninguém. É o amor que transforma o sofrimento. Portanto, é com Jesus que se abraça a cruz; nunca sozinho! Se se abraça Jesus, renasce a alegria. E a alegria de Jesus, no sofrimento, transforma-se em paz. Queridos jovens, desejo-vos esta alegria, mais intensamente do que qualquer outra coisa”.

No final, o papa Francisco rezou o Pai Nosso. Depois, saudou alguns jovens enquanto o coro e a orquestra tocavam a música e se aproximou para saudar em particular o cardeal eslovaco Jozef Tomko, de 97 anos.

Deixe seu Comentário